Psicologia social avançada: O estudo atual da ciência

Diversas falhas metodológicas graves foram encontradas em estudos desenvolvidos ao longo das décadas de 70, 80 e 90 no campo da Psicologia Social. Tais falhas impediam a replicação adequada de estudos por outros pesquisadores, produzindo resultados estatisticamente nulos, diferente dos estudos originais.

Ao longo desses anos foram descobertas manipulações, fraudes e estratégias para construir resultados estatisticamente significativos, passíveis de publicação em grandes periódicos, mas fraudulentos e sem qualquer relevância científica. Essa fase culminou na crise de replicabilidade, que trouxe questionamentos éticos e sobre a relevância da Psicologia Social para as ciências em geral. A descoberta de tantas fraudes e manipulações, manchou a reputação da área, sem dúvida, mas, ao mesmo tempo, motivou os pesquisadores a desenvolverem métodos de pesquisa mais criteriosos. O amargo remédio serviu para tornar a psicologia social atual, em nível internacional, uma das ciências sociais com os métodos de pesquisa mais cuidadosos e rigorosos.

Tais critérios são exemplificados no capítulo entitulado New Developments in Research Methods (Ledgerwood, 2019), do livro Advanced Social Psychology: The State of the Science.  Pode-se fazer ciência de forma mais criteriosa tanto em estudos individuais, quanto em metanálises, grandes revisões de dados que permitem inferências mais robustas. Fazer boa ciência, no entanto, não é fácil, requer tempo e dinheiro, elementos que normalmente faltam à educação como um todo.

Primeiramente é necessário diferenciar se o estudo terá uma natureza exploratória ou confirmatória. Se exploratório o estudo terá o objetivo de conhecer melhor um banco de dados, por exemplo, e ver como se comportam para construir uma teoria ou inferir pressupostos a partir dos padrões apresentados. Se confirmatório, haverá a expectativa de confirmar hipóteses preestabelecidas com base em uma teoria, testando-a.  Outro ponto importante é controlar o tamanho amostral para que este não incorra em erros de tipo I e de tipo II, ou seja, para que não haja um falso positivo ou um falso negativo.

A preparação, desde o tamanho amostral até a seleção de instrumentos, deve, idealmente ser pré-registrada junto a um periódico. O pré-registro garante maior transparência dos estudos, dando clareza desde a concepção até análise de dados, garantindo uma ciência com maior transparência e evitando comportamentos fraudulentos por parte dos pesquisadores. O estudo pode também ser pré-registrado não apenas junto ao periódico, mas também junto aos pesquisadores do mesmo laboratório ou em um repositório online como o Open Science Framework.

Além do pré-registro, um plano de análise é um instrumento útil. Ele reduz os graus de liberdade do pesquisador, diminuindo o número de decisões que ele pode tomar sobre como analisa os dados produzidos; faz com que os dados sejam interpretados dentro de seus limites, sem inferências além das que apresentam; permite a correção de alguns vieses cognitivos, como o viés de confirmação e  ajuda o pesquisador a distinguir quais análises foram planejadas e quais foram feitas com base na observação dos dados.

Estas formas de planejar pesquisa servem para pensar mais claramente sobre o que fazer e como fazer, bem como, distinguir e reportar quais análises dependeram dos dados observados. São, no fundo, um exercício de disciplina do pesquisador que aumentam as chances de comportamento ético e rigor metodológico, resultando em uma ciência mais precisa e útil à sociedade.

Mesmo com cuidado e rigor há a possibilidade de existirem resultados inesperados ou, até mesmo, não significativos. Para evitar isso é necessário aumentar o pode estatístico com amostras amplas e diversas, com delineamentos dentre sujeitos, uso de grupos extremos e medidas confiáveis.

Um ponto importante na construção de uma psicologia social mais sólida são os estudos de replicação. Muitos pesquisadores buscam desenvolver inovações e iniciam novas teorias ou conhecimentos o que, sem dúvida, é louvável e necessário. Por outro lado, a ciência se solidifica quando estudos originais podem ser replicados direta, sistemática ou conceitualmente. As replicações podem tirar dúvidas sobre os resultados, confirmá-los ou refutá-los. No caso de replicações sistemáticas, por exemplo, é possível averiguar se o efeito significativo de um resultado se deu devido à influência de algum detalhe aparentemente irrelevante do estudo original. Nas replicações diretas, o protocolo original é repetido sem qualquer mudança. Por meio desse procedimento é possível aumentar a confiança no resultado do estudo original. Já as replicações conceituais usam procedimentos bem diferentes dos estudos originais, mantendo os conceitos teóricos. Isso permite aumentar a confiança nos significados de um resultado.

A pesquisa é naturalmente cumulativa. A psicologia social, aos poucos, vem aprimorando seus métodos, sendo hoje uma das áreas de ponta no desenvolvimento de pesquisas em psicologia.

Referência

Ledgerwood, A. (2019). New Developments and Research Methods. In: Finkel, E. J., & Baumeister, R. F.  (Eds.), Advanced Social Psychology: The state of the science, 2nd edition (p. 39-63). Oxford University Press.