Cognição social e níveis de análise

A cognição social é o paradigma atual da psicologia social moderna. Modelos compostos por processos mentais automáticos e controlados possuem alto poder preditivo e explicativo de fenômenos sociais complexos. A área interessa-se por como os indivíduos fazem sentido da realidade para navegar no mundo social (Fiske & Taylor, 2017). Ela pode relacionar-se à compreensão do indivíduo, à comunicação com outros e prosseguir até a relação entre grupos e outros processos macrossociais, como os estereótipos, abrangendo diferentes níveis de análise (Doise & Valentim, 2015)

Três princípios fundamentais são considerados: (1) a flexibilidade individual em utilizar processos automáticos e deliberados; (2) pragmatismo em lidar com pistas que parecem dar algum diagnóstico, como rostos; (3) a representação de informações úteis na memória, como pressupostos. Além disso os motivos sociais guiam nossos comportamentos e formação de impressões.

O principal deles é a necessidade de pertencimento. Este motivo social, por exemplo, requer o engajamento na compreensão das emoções dos outros para predizer e talvez controlar o que acontece na interação. A necessidade de pertencimento é tão relevante para as interações sociais que impulsiona os outros 4 motivos da cognição social: necessidade de compreender o outro e o mundo, de confiar em outros, de aprimorar-se e de controlar.

Mecanismos mentais automáticos e controlados podem ser vistos como dois extremos de um contínuo. Há processos completamente fora do controle consciente, como a acessibilidade promovida por primings subliminares, até o completo controle como a intencionalidade. Danos percebidos como resultado de intencionalidade, por exemplo, são vistos como mais graves do que danos percebidos resultantes de acidentes. Esses processos não dizem respeito somente aos indivíduos mas, sobretudo, sobre como percebemos os grupos sociais formando estereótipos, emoções sociais e comportamentos.

Predizer o comportamento de outros é, em certa medida, compreender algumas de suas predisposições como a personalidade, os traços e as intenções. Nesse processo explicamos os comportamentos atribuindo-os causalidade, tentando saber o porquê dos outros fazerem o que fazem. Na atribuição de causalidade observamos a saliência, a magnitude, a mente de outros e a similaridade dos efeitos. Da mesma forma são observados aspectos situacionais para atribuir causas. Com frequência pessoas que sofrem alguma consequência negativa são culpadas por sua situação, configurando assim as crenças no mundo justo, como um dos viéses presentes na formação de sentido sobre o mundo social. Outros viéses frequentes são o erro fundamental de atribuição, o viés auto-centrado e o realismo ingênuo.

A descrição proferida por Susan Fiske no capítulo permite concluir que muitas das estratégias presentes na cognição social são adaptativas na maior parte do tempo. O equilíbrio entre processos automáticos e deliberados permite uma compreensão relativamente adequada da realidade social, no entanto, quando engajados em processos rápidos e automáticos, estamos sujeitos a diversos erros e viéses que podem promover o preconceito fomentar conflitos entre grupos e o preconceito.

Referências

Doise, W., & Valentim, J. P. (2015). Levels of Analysis in Social Psychology. In: James D. Wright (Ed.), International Encyclopedia of the Social & Behavioral Sciences, 2nd edition (p. 899–903). Oxford: Elsevier.

Fiske, S. (2019). Social Cognition. In: Finkel, E. J., & Baumeister, R. F.  (Eds.), Advanced Social Psychology: The state of the science, 2nd edition (p. 63-88). Oxford University Press.

Fiske, S. & Taylor, S. (2017). Social cognition: from brains to culture (3rd ed.). Sage Publishing