Processos de grupo em psicologia social

Desenvolvimentos recentes no campo do estudo do conflito entre grupos têm debruçando-se sobre novas formas de tribalismo. A polarização política afetiva, o desejo de distanciamento de pessoas que se identificam com grupos políticos que se opõem ao seu próprio, pode ser uma forma moderna de compreender os estudos clássicos sobre as relações entre grupos.

A teoria da identidade social (TIS) é um dos arcabouços principais que permitem compreender esse fenômeno. Apesar da explicações evolutivas, com base genética, que afirmam que a cooperação entre grupos com filiação sanguínea serviu à melhor adaptação do ser humano, a TIS postula que manipulações simbólicas simples podem ser suficientes para evocar um conflito endogrupo X exogrupo, sem que haja necessariamente parentesco ou relações interpessoais prolongadas.

Essa informação é bastante importante para compreender a polarização política, por exemplo. Com base em tal pressuposto, a polarização pode ser facilmente fomentada por meio de campanhas em redes sociais, mídia e discursos de líderes.  Isso serve aos políticos que a utilizam intencionalmente, mas também ao público leigo que pode ser facilmente manipulado sem que necessariamente percebam. É essencial, portanto, ser mais consciente desses processos para, então, e contrabalançar a tentativa de controle exercida por ícones polarizantes.

Emoções comuns no processo de distanciamento afetivo grupal são o medo, o nojo, o desprezo, a raiva e a inveja.  O medo e o nojo, normalmente, acompanham resposta de evitação. Já o desprezo e a raiva implicam em um movimento contrário, ou de ataque, ao exogrupo. As atitudes e o comportamento acompanham emoções resultantes da percepção que um grupo forma de outro. Por exemplo, quando o conflito ou ameaça é tido como de baixa valência, a percepção de exogrupos é normalmente associada a status ou legitimidade.

A percepcão de que um exogrupo é diferente do endogrupo de forma a ser desvalorizado dá raiz à sentimentos de superioridade moral, intolerância e emoções de desprezo e nojo. Sem qualquer coincidência, é notável perceber que estas duas emoções também acompanham os processos de desumanização (Harris & Fiske, 2006), fomentando não apenas a segregação e evitação mútua, mas também motivando a raiva e a agressão quando um conflito de interesses específico toma lugar, como a luta por poderes políticos em um processo eleitoral, por exemplo.  Portanto a desumanização por ser compreendida como um viés de grupo com caráter deslegitimizante que serve para justificar agressões, tratamento desumano e e violência (Bandura et al., 1975).

Os processos de conflito entre grupos tendem a comprometer a habilidade empática humana (Decety, 2005), fator que pode ser bem preocupante para a promoção de relações positivas em sociedades complexas e multiculturais tão comuns atualmente. É necessário estar consciente, em nível pessoal e grupal, do favoritismo endogrupal para que seja possível promover comportamento pró-social mesmo diante dos interesses destoantes dos diferentes grupos sociais. Habilidades como essas podem estar mais de acordo com o caminho que a história evolutiva vem tomando e, talvez, as habilidades humanas selecionada pelo ambiente que nos permitiram chegar até aqui, não sirvam mais para o mundo que estamos construindo social e economicamente.

Referências

Bandura, A., Underwood, B., & Fromson, M. (1975). Disinhibition of aggression through diffusion of responsibility and dehumanization of victims. Journal of Research in Personality, 9(4), 253-269. https://doi.org/10.106/0092-6566(75)90001-X

Brewer, M. (2019). Intergroup Relations. In: Finkel, E. J., & Baumeister, R. F.  (Eds.), Advanced Social Psychology: The state of the science, 2nd edition (p. 249 – 274). Oxford University Press.

Decety, J. (2005).  Une anatomie de l’empathie. Psychologie et Neuropsychiatrie Cognitives, 3(16), 16–24. http://doi.org/10.1007/ BF03006827

Harris, L & Fiske, S. (2006). Dehumanizing the lowest of the low: Neuroimaging responses to extreme out-group. Psychological Science, 17(10), 847 – 853.